UFA!

Um suspiro de alívio em nosso Universo Facultativo Alternativo.

João Carlos Martins
5 min readOct 24, 2023

Formada em 2019 por Eduardo, Lucas e, posteriormente, João, a banda Vitruviana lançará seu primeiro EP, UFA!, em 27 de outubro de 2023. Apresentando um repertório já conhecido de seus shows, mas agora lapidado em estúdio, esse registro sintetiza a simbiose entre os integrantes como músicos e amigos.

Foto por Vinicius Senne e Arte da capa por Aline Kammer Bevilaqua

Produzido 100% no Estúdio Gelatina Trêmula, UFA! é um trabalho independente nascido da paixão conjunta do trio por suas composições. As quatro faixas escolhidas para gravação foram: Fantasmas, A Onda, Lista e Observar e Absorver; músicas que são tocadas desde os primeiros shows do conjunto.

Com referências do indie rock, rock progressivo setentista e psicodélico, a Vitruviana dá vida às suas criações por meio de letras sobre o cotidiano e arranjos esquisitos, que convidam quem ouve a adentrar em seu Universo Facultativo Alternativo.

Opinião do autor

Como autor do texto e do álbum, posso dizer que um turbilhão de sentimentos transbordam o meu peito ao falar sobre este registro. UFA! é o primeiro trabalho sólido da Vitruviana, banda que existe desde 2019, tendo feito seu primeiro show em 28 de setembro do mesmo ano. Na data em questão, o conjunto se mostrou como duo (Eduardo e Lucas), tendo a mim como espectador. Ao término da apresentação fui cumprimentá-los, como é de praxe quando bandas conhecidas encerram seus espetáculos, e recebi o convite para assumir a posição de baixista, que já ocupara em outro momento. Para quem não sabe, Eduardo e eu fomos integrantes da Avôa, conjunto que contava com a presença de nosso amado, eterno e saudoso amigo Roberto Néri. Fizemos apenas um show com essa formação e não chegamos a lançar nada oficial, mas as quatro músicas presentes neste EP tiveram seus primeiros acordes rascunhados nesse período. Prontamente aceitei retornar e, desde então, lançamos singles e clipes, além de termos feito shows memoráveis, como o da Videolocadora Charada, os dois anos seguidos no Festival Satyrianas, sendo o segundo no Espaço Parlapatões, a participação no primeiro Festival da ABB (Associação Brasileira de Bruxaria) em Paranapiacaba, e tantos outros. Apesar disso, faltava algo mais conceitual, algo que narrasse uma história com mais do que um mísero capítulo; músicas que se amarrassem de alguma forma. Deu-se, então, vida a UFA!

Faixa a faixa

Nesta seção vou contar curiosidades e sentimentos que tenho sobre as músicas, porém que se referem única e exclusivamente a mim mesmo. Se quiser saber as opiniões dos demais integrantes vai lá perguntar pra eles.

Fantasmas
Escrevi a letra de Fantasmas em meados de 2017, fechado no quarto das bagunças do apartamento onde morava, deitado num colchão inflável e já bem tarde da noite. A música representa os momentos finais do meu casamento, no qual me sentia assombrado pela dicotomia entre os dois monossílabos mais potentes do mundo; o sim e o não. A metáfora entoada no segundo verso, em que digo estar “frente à hora de morrer”, traz a ideia de findar aquilo tudo e renascer, no entanto é preciso aceitar a transição para que o futuro se revele. Como diz Yoda: “Fazer ou não fazer. Não existe tentar”. Tempos depois de compô-la, a apresentei para o Eduardo, ainda nos tempos de Avôa, já com melodia, harmonia e ritmo, contudo ainda faltava uma estrofe antes do segundo refrão. Ele pediu permissão para pensar sobre e trouxe o seguinte complemento:

“[…] Se não vir mais o horizonte
Profundas águas do Aqueronte.
Olhos de rinoceronte
Iludir-se-á.”

O resto todo criamos como banda, todos tendo seus respectivos espaços para viajar para onde quisesse.

A onda
Lembro-me da exata situação em que fui apresentado à Onda. Era final de 2018, estávamos prestes a iniciar um ensaio e recém cientes da vitória de bolsonaro nas eleições presidenciais do ano em questão. Enquanto conversávamos, Eduardo pegou seu violão e disse: “deixa eu mostrar para vocês uma música que fiz esses dias”, e começou a tocar. Aquilo me impressionou do início até o momento em que ele errou e parou de tocar. A variação de 4/4 para o 3/4 precedida por um riff medonho me deixou extasiado. Esta é a música que mais gosto em UFA!, justamente por essa mudança em sua fórmula de compasso. Nela tive o prazer de tocar a guitarra que aparece na parte tercinada, além do baixo que gravei em todas as outras. “A onda passou, devastou, da costa ao interior. E deu as costas para o amor, desinteriorizou, o desumano escondido em seu coração!”; sim, é desse nível de composição que estamos falando.

Lista
Perfeita para ouvir no supermercado, Lista é uma das mais impressionantes músicas que já ouvi na vida. Tendo em sua letra apenas substantivos, com o intuito de formar uma lista, ela carrega o peso do mundo em cada uma das palavras cantadas. Não tem, sequer, um verbete nela que não seja associado a algum sentimento melancólico, de perda, dor e/ou sofrimento. Uma curiosidade em relação ao arranjo é que sua introdução, repetida no meio e no fim da música, é em 5/4 — ou qualquer outra conta que não dê 4/4 — e foram gravadas duas linhas de baixo diferentes nessa parte da canção. Além disso, ela é a única em que todos nós cantamos, além de contarmos com a participação da Aline Paranhos, companheira do Edu, nos backing vocals do refrão. A demo de Lista saiu como single há algum tempo, e você pode ouvir/assistir aqui em baixo.

Observar e Absorver
Das quatro ela é a única que bota os quadris para requebrar, mas também te faz pensar, ter reflexões e filosofar tudo. Ela é de uma conexão além do absurdo e mostra que existe um universo pra nos misturar. Ensina que é melhor fechar a boca e abrir os ouvidos, e mais: diz que mais importante que chegar ao destino é o que o caminho tem pra ensinar. A ideia da canção, segundo Eduardo, surgiu após ter visto, ou lido, algo de seu xará, o poeta das ruas Eduardo Marinho. Se você procurar pelo nome da canção na Internet é bem capaz que encontre algo sobre ele. Enfim, ela é direta e reta, acelerada, swingada, bate estaca, frita. Ideal pra ser remixada e entrar numa playlist de música eletrônica (fica a dica aí).

Considerações finais

Pode parecer clubismo, mas estou muito feliz com o resultado alcançado nesse trabalho. Muito mais do que ter orgulho de apresentá-lo para os outros, eu estou ansioso para poder ouvir junto de todas as outras coisas que escuto no dia a dia. Certamente eu seria fã dessa banda se não tivesse que estar no palco sempre que ela toca. Gosto das ideias, da execução, da nossa amizade e de tudo o que ainda tem por vir.

Se tivesse que dar uma nota, seria a nota Dó, mas um Dó sustenido que é mais bonito.

Brincadeira, minha nota seria DEZ!

Faz o pré-save, fdp!

Um vitruvibeijo 💙💚🧡

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João Carlos Martins

Redator, copywriter, gestor de equipes, baixista e mais um monte de coisas que dão pouco, ou nenhum, dinheiro.