Capitulo 1

Hoje cedo, quando voltava do trabalho, fiz o trajeto da estação de trem até a minha casa a pé. Numa das ruas adjacentes ao meu trajeto vinha um caminhão de coleta de lixo. Parei na calçada, esperando que ele cruzasse o meu caminho, para assim seguir meu destino. Assim que o veículo passou por mim, os profissionais coletores, aqueles que ficam pendurados na rabeira, correndo com os sacos e sacolas de descartes nas mãos, falaram comigo. Um deles começou: “salve, cabelo!”; ao que acenei de volta com um sinal de joia. Em seguida, um outro disse: “bigode chave demais, pai”. Mesmo tendo ficado um pouco envergonhado, agradeci e também o cumprimentei. O terceiro completou a sequência de elogios com algo que não me lembro agora. O caminhão entrou na avenida e partiu. Eles não sabem, mas a última coisa que eu esperava receber naquele momento era um elogio, um sinal de simpatia, ou qualquer coisa que o valha. Não pensei nisso durante o dia, pois tinha outras coisas para pensar, contudo agora de banho tomado e adesivo renovado refleti sobre. Não cheguei a nenhuma conclusão, entretanto pensei no tipo de lixo que sou física, mental e existencialmente falando. Por um segundo quis ser juntado aos outros e, lentamente, ser esmagado pelo mecanismo de compactação do automóvel em questão. Doeu, mas passou. Dói, mas vai passar.