E hoje eu sei, sei, sei…

O que pensar sobre um dos últimos expoentes do Rock Nacional.

João Carlos Martins
4 min readSep 16, 2023

Desde que a banda Restart anunciou o seu retorno para uma turnê de despedida Brasil afora só se fala em outra coisa nos corredores de escritórios e papos de boteco. O grupo colorido que empunhava baixo, guitarras e baquetas, assim como os Beatles, esteve na boca de todo o país, seja por amor ou ódio no início da década passada. As vestes extravagantes, às vezes perigosas para quem sofre de fotossensibilidade, foram o grande mote da época, fazendo com que alguns aderissem à moda enquanto outros a repudiavam veementemente. Apesar disso, pouco de conciso foi falado sobre as músicas do conjunto — até agora.

Sendo assim, peço licença à terceira pessoa e venho por meio deste texto contar o que achei do disco de estreia de Pelu, Pelanza, Thomas e Koba, o homônimo: Restart.

Lançado em 2010, o álbum teve impacto significativo na vida de jovens de todo o território nacional. Em mim, as músicas do quarteto não causavam interesse, pois, com aproximadamente 20 anos de idade e sedento por composições mais complexas, meus gostos variavam entre os subgêneros mais extremos do Rock, como o Stoner, Death Metal, Doom e Sludge. Esses tipos de composição, conhecidos por sua agressividade, tanto instrumental quanto lírica, me distanciaram da ideia de saber o que o Restart realmente era além das calças de cós baixo e cabelos cortados de maneira assimétrica. Vale destacar que as únicas canções que chegaram ao meu conhecimento foram os hits: Recomeçar e Levo Comigo; isso graças às mídias que tinha à disposição, como rádio e tevê. Também é preciso frisar que, diferentemente dos meninos policromáticos, que iniciaram sua jornada musical ainda na puberdade, minha relação mais profunda com a arte de fazer música só veio após a vida adulta, então não espere que as motivações que trago para desgostar do som que apresentavam eram nutridas por algum tipo de conhecimento técnico ou qualquer coisa que o valha. Hoje, prestes a completar trinta e dois anos de vida, com cerca de cinco anos de experiência no underground rockeiro paulistano, alguns singles lançados e dois EPs gravados, mas ainda em processo de mixagem, posso dizer que continuo inapto a avaliar todas as nuances da teoria contida nos trabalhos produzidos pelos happy rockers em questão, entretanto tenho impressões respeitosas que acredito poder emitir sem ser ofensivo com quem os curte.

Foi, então, no dia quinze de setembro de dois mil e vinte e três, por volta das vinte horas, que decidi ouvir pela primeira vez o, também primeiro, disco dos rapazes. Abri um bloco de notas e anotei pontos que me chamaram a atenção durante a experiência e tentarei elucidá-los mais abaixo:

O que ouvi

A guitarra base me incomodou desde o primeiro riff por conta de sua distorção muito abelhuda lembrando o timbre do Metal Zone, um pedal que não me agrada por sua artificialidade sonora. Pode ser que tenha sido gravado com outro recurso ou até mesmo usando plugin, mas, para mim, esse tipo de som não cola.

Já a guitarra solo, um pouco mais comprimida, traz frases simples, mas interessantes, como as de Recomeçar e Vou Cantar (desculpa, mas só ouvi o disco uma vez e não vou ficar descrevendo faixa a faixa, por motivos de “não sou capaz”). Até onde meu ouvido me permite interpretar, me parecem ser bicordes e arpejos majoritariamente criados entre tônica e quinta justa, que costumam sempre soar bem em qualquer lugar.

A surpresa fica a cargo do instrumento mais querido deste que aqui escreve, o contrabaixo elétrico! Nada do que foi executado, no que diz respeito à melodia, me surpreendeu, mas o timbre está muito bonito em todas as faixas do disco, e isso precisa ser reconhecido. Outro ponto importante de ser evidenciado é que o baixista também canta boa quantidade de músicas, o que não é tarefa das mais fáceis. Nem todo mundo é um Les Claypool ou Paulo Ricardo.

A bateria é ok. Nada surpreendente, porém conta com viradas e pequenas pausas rítmicas que tiveram destaque na minha audição.

Para finalizar, faço um catado geral de voz e letras. A cantoria dos cantores é afinada. Você pode até não gostar do que ouve, mas não pode dizer que é mal feito. As aberturas de vozes são corretas e dão um ar de sofisticação para os trechos em que acontecem. Em contrapartida, as letras não carregam muita profundidade em termos de poema e poesia. Um trecho que me chamou a atenção para isso foi o refrão de Vou Cantar, que é assim:

Vou cantar até você ouvir
Aquele verso que eu fiz para te ver sorrir
E dizer, talvez seja você
Que me completa e me faz querer viver

Esse tipo de rima pobre, que combina verbos no infinitivo, cansam um pouco ouvintes mais cansados como eu. Todavia, não dava para esperar que adolescentes, fazendo músicas para adolescentes, pudessem ser muito melhores que isso.

Conclusão

Esta foi a primeira e última vez que, voluntariamente, coloquei um disco do Restart para ser reproduzido. Além de não ser o tipo de música que estou acostumado a ouvir, o que me impressionou foram apenas características que não devem ser o principal para se gostar de uma banda. Para mim faltou carisma e imprevisibilidade, mas, até aí, quem é que tá fazendo isso, né?

O importante mesmo foi descobrir que não odeio as músicas do Restart assim como muita gente odeia sem nunca ter ouvido.

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João Carlos Martins

Redator, copywriter, gestor de equipes, baixista e mais um monte de coisas que dão pouco, ou nenhum, dinheiro.