A vida é mais curta do que este texto.

No dia 16 de dezembro de 2023, fui até o AMA e vi uma pessoa morta.

João Carlos Martins
2 min readDec 18, 2023

Gisele (talvez assim fosse a grafia de seu nome), 35 anos de idade, chegou ao atendimento médico ambulatorial aqui do bairro no banco traseiro de um carro popular, com a cabeça deitada sobre o colo de seu marido, cujo qual não ouvi o nome, sem vida ou prestes a fazer a transição.

Depois de duas noites sem dormir, por conta de uma tosse seca e aguda, fui ao hospital em questão para ver o que aquilo poderia ser. Não que eu não soubesse que se tratava de um resfriado e que um xarope qualquer daria jeito, mas o aval médico é sempre importante de se ter. A fila de espera nem era das maiores dessa vez; cheguei lá por volta das oito da manhã e saí próximo ao meio-dia. Com minha senha em mãos, já atendido no guichê inicial, fiquei sentado do lado de fora, ainda com acesso visual ao display alfanumérico que indicava o momento de cada atendimento individual. Enquanto aguardava, ouvi gritos desesperados vindos da rua: “CHAMA A AMBULÂNCIA, CHAMA A AMBULÂNCIA”. O homem supracitado berrava de dentro do automóvel, mas ninguém, incluindo a mim, se moveu. Uma outra mulher, que se intitulou prima de Gisele, desceu apressada de dentro do veículo e correu para o balcão de atendimento. Logo, alguns agentes de saúde foram averiguar o caso mais de perto, já munidos de uma cadeira de rodas. Entretanto, a vítima do acaso não apresentava sinais de resistência, estando incapacitada de ser conduzida sentada até um consultório. Trouxeram, então, uma maca e a acomodaram deitada de barriga para cima. O comboio passou em minha frente e, ao que pude observar, o corpo aparentava não ter mais vida. Todos adentraram ao recinto, fizeram os trâmites necessários para o atendimento acontecer, enquanto os profissionais realizavam os procedimentos padrão para esse tipo de caso. Foram menos de quinze minutos até que o veredito fosse dado. Gisele veio a óbito. Seu companheiro caiu de joelhos no pórtico que separa a parte interna da externa do imóvel. A prima dizia não acreditar. Conhecidos surgiram aos prantos; enquanto outros envolvidos, estarrecidos e incrédulos, comentavam com pessoas quaisquer que até o dia anterior ela estava bem. Eu não tive muita interação, apenas observei com pesar a tristeza que todos ali apresentavam.

Mesmo sem conhecer meus conterrâneos, desejo força e sabedoria aos familiares e amizades da falecida.

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João Carlos Martins

Redator, copywriter, gestor de equipes, baixista e mais um monte de coisas que dão pouco, ou nenhum, dinheiro.